A verdade que ninguém quer ver
Um garotinho, de no máximo seis anos
que era da altura da cintura das pessoas, pedia dinheiro no semáforo, estava
incrivelmente magro, olhos profundos, assustados e tristes. Aqueles olhos que
já haviam visto muita coisa, dentre as horríveis até as maravilhosas.
Ele nascera num
pequeno cômodo, de uma casa, seu choro pôde ser ouvido pelos vizinhos, um choro
forte e alto. Logo foi separado de sua mãe pelos seus avós e colocado em caixas
de papelão na rua. Não demorou muito e dois mendigos já idosos o acharam e
dividiram com ele, tudo que tinham e não tinham, também deram a ele um nome, Benjamim.
Poucas vezes,
algumas pessoas passavam e davam comida, roupas a eles. Aos poucos o pequeno ia
crescendo, os idosos que nunca tiveram um filho, sorriam o vendo crescer. Certo dia, quando ele estava prestes a
completar um ano, homens vestidos de branco os tiraram dos braços dos velhinhos,
que tentaram ir atrás deles, mas foram detidos por dois policiais. Benjamin
chorava assustado, a última coisa que ele viu foram seus pais de coração serem
jogados contra o chão e sendo chutados.
Eles o levaram
para um local longe de tudo que ele conhecia, deram roupas novas, igual a dos
outros garotos que haviam lá, a maioria mais velhos. Além de cama nova e
comida. Ele fora esquecido e sentia falta do amor que agora não tinha.
O tempo passou
e ele cresceu, ninguém falava muito com ele, mas isto não tinha muita
importância, pois não tinha muito a dizer. Também não era muito abordado pelas pessoas
com intuito de amizade. Assim, quando os garotos mais velhos conseguiram fugir,
Benjamin foi atrás, não gostava daquele lugar.
As coisas fora
de lá não eram fáceis, mas melhores.
Não demorou
muito para ele conhecer a violência, a injustiça e a ignorância. Ele passou
fome, conviveu com assaltos, roubos, mortes, doença, e a desunião.
Ele
passou a pensar, pensar o porquê de as coisas andarem daquele jeito, por que ele
passava fome enquanto os outros esbanjavam alimento? Por que ele e outras
pessoas sofriam de sede enquanto os outros tomavam bebidas coloridas, doces? Por
que suas roupas eram rasgadas e a de outros eram limpas e lindas? Por que as
pessoas na rua o olhavam com desprezo? Por que ninguém se importava com isso? Por
que as pessoas com renda mais alta criticavam os que nada tinham roubarem para
viver?
Ele estava
cansado de sofrer, cansado de ter que viver correndo, morrendo a cada dia,
cansado de pensar em tantas desigualdades. Assim como muitos de nós, não fez
nada, virou de lado e apenas dormiu. Ali mesmo na rua em cima daquele banco da
praça.

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